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O dia em que as mães entraram em greve

Livro discute, com as crianças, o que é trabalho do cuidado — e porque ele recai, sobretudo, sobre as mulheres

Imagem propriedade da Brasil de Direitos

Avante - Educação e Mobilização Social

3 min

O dia em que as mães entraram em greve (Reprodução/Instagram)

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As mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado no mundo, o que corresponde a 12 bilhões de horas diárias, segundo relatório da organização internacional Oxfam. Diante dessa realidade, como seria se as mães decidissem paralisar?

Considerando o seu papel de sustentáculo familiar, imposto historicamente pelo sistema patriarcal, possivelmente a paralisação desestabilizaria toda a estrutura social e não apenas ganharia notoriedade midiática, como provocaria uma reação masculina em massa.

Para traduzir o conceito social de maternidade para as crianças, Carla Pinto Bittencourt construiu uma narrativa crítica e criativa que, ilustrada por Aline Terranova, auxilia os pequenos leitores a compreender a problemática do trabalho “invisível” das mães.

No intuito de superar o viés romantizado e comercial comumente empregado ao dia das mães, a Avante – Educação e Mobilização Social indica a obra, recém-lançada, da jornalista soteropolitana e mãe de Joaquim: O dia em que as mães entraram em greve.

A narrativa

As primeiras linhas da narrativa respondem à nossa pergunta introdutória. “Quando as mães decretaram greve, o mundo virou de cabeça para baixo”.

Na história, a greve desordena a rotina do planeta e o cotidiano perde a sua perspectiva de linearidade. Os filhos, à mercê dos pais, tentam se virar sozinhos, mas sem sucesso. E eles, os pais, atordoados, mal sabem por onde começar.

As casas e cidades reviradas, o atraso dos relógios e a expressão facial desesperada dos personagens, embora metaforizadas, anunciam claramente a catástrofe provocada pela ausência da mão de obra materna, da mesma forma que denunciam a necessidade dessa ausência para uma possível revolução.

O enredo ilustrado está muito próximo do caos que todos nós já vivenciamos, em algum momento, em razão do adoecimento ou ausência de nossas mães.

O livro aborda, de forma lúdica e leve, sem deixar de ser profundo, a função do cuidado como trabalho e a invisibilização da força e tempo dispensados pelas mães às tarefas domésticas, sem a justa remuneração e amparo legal.

A narrativa nos convoca a uma série de reflexões. Após o decreto da greve, por exemplo, enquanto os adultos (segundo a ilustração, em sua maioria, homens) questionam as razões da paralisação, as crianças são as primeiras a apoiar o movimento grevista e, da mesma maneira, a entender que a greve tinha relação com o trabalho e não com o amor.

O clímax da narrativa problematiza a diferença entre a reação das crianças e dos adultos diante da paralisação, permitindo ao leitor, discutir pelo menos dois aspectos com elas.

Primeiro, que o apoio a uma manifestação implica reconhecer a legitimidade da causa – desafio incômodo para quem ocupa lugares de privilégio, como os homens; segundo, que dissociar o cuidado do amor requer empatia com quem cuida – portanto, dois aspectos fundamentais para a revolução que marca o desfecho da história.

O livro nos convida a imaginar um mundo melhor, onde o cuidado transpõe as distinções de gênero e passa a ser uma responsabilidade compartilhada por toda a sociedade.

 

Artigo originalmente publicado no site da Avante

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