Festa boliviana revela sincretismo religioso e críticas à mineração
Alex Vargem
3 min
Navegue por tópicos
Alex Vargem, do CAMI
Todos os anos, a comunidade boliviana — no Brasil e na Bolívia — se reúne em grandes comemorações em homenagem às virgens padroeiras do país. São dias de festa, marcados por música e dança, em louvor às virgens de Copacabana, Urcupiña e Socavon. Um tanto parecidos com o carnaval brasileiro, os festejos marcam, também, o aniversário de independência do país andino, comemorado no dia 06 de agosto.
A “entrada folclórica”, como a comemoração é conhecida, é um dos eventos mais esperados pela comunidade boliviana no Brasil. Grupos tradicionais se organizam em apresentações elaboradas, trajando vestes típicas que revelam, nos detalhes, aspectos da cultura e da história bolivianas.
Em 2019, a entrada folclórica reuniu mais de 20 mil pessoas, entre brasileiros e bolivianos, no Memorial da América Latina, em São Paulo. A comemoração, realizada nos dias 11 e 12 de agosto, foi organizada pela Associação Cultural Folclórica Bolívia Brasil (ACFBB) com o apoio institucional do Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI).
Mais de 20 grupos folclóricos se apresentaram: Caporales Kantuta Bolívia, Morenada Fanáticos Del Folklore, Tinkus San Simón, Salay Bolívia, Diablada 10 de Febrero entre outros. Nos seus gestos e trajes, representaram expressões importantes da cultura boliviana. Foi o caso da Diablada. A dança, tradicional da região de Oruro, representa um drama teatralizado da luta entre o bem e o mal. Os dançarinos, fantasiados, se dividem entre “diabos” e “anjos”, numa analogia do embate entre a vida e a morte.
As entradas folclóricas homenageiam as virgens padroeiras da Bolívia. São o principal evento da comunidade boliviana no Brasil
As fantasias de diabo e anjo são mostras do sincretismo religioso. Resultam da imposição da religião católica sobre os costumes dos povos indígenas, muitos dos quais escravizados e obrigados a trabalhar nas minas de pedras preciosas. Essa foi, inclusive, uma das histórias contadas durante a apresentação: neste ano, os integrantes de uma das bandas da diablada usavam capacetes de mineiros. Outros de seus membros pediam proteção para os trabalhadores das minas e plantações, frente as adversidades que encontravam.
Outro caso, o grupo Tinkus San Simón realizou um cerimonial pré-hispânico das comunidades da região de Potosí e Oruro. Na dança representativa, marcada por fortes passos, notava-se uma atitude guerreira de seus componentes. Inclusive das mulheres, que usam trajes multicoloridos típicos dos povos andinos.
O CAMI montou uma tenda durante a festa, e aproveitou a oportunidade para fazer orientações em relação à regularização migratória, tirar dúvidas sobre cursos de português, rodas de conversa com mulheres imigrantes, regularização de oficinas de costura, assistência social e jurídica e outros serviços gratuitos ofertados pela instituição. Quem compareceu ao evento, de quebra, pode experimentar a culinária típica da Bolívia.
Você vai gostar também:
Cis e trans: qual a diferença dos termos?
3 min
Saiba o que pode e o que não pode em uma abordagem policial
19 min
4 escritoras lésbicas brasileiras que você precisa conhecer
3 min
Entrevista
Ver maisCom acordo em Alcântara, Estado se antecipa à condenação internacional, diz ativista
9 min
Pesquisa revela violências sofridas por mulheres negras na Amazônia paraense
7 min
Glossário
Ver maisAbdias Nascimento: quem foi o artista e ativista do movimento negro
8 min
O que é violência obstétrica? Que bom que você perguntou!
4 min