Mulheres negras acadêmicas: temos nomes e ocupamos as universidades
Nas últimas duas décadas, políticas afirmativas mudaram a cara da universidade pública. Na academia, mulheres negras lançam novos olhares sobre a realidade brasileira
Maria Teresa Ferreira
7 min
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Ao longo dos últimos 20 anos, políticas de ações afirmativas — como as cotas raciais — promoveram profundas mudanças nas universidades brasileiras. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2019, mostram que alunas e alunos negros são, hoje, maioria nas universidades federais. Acho importante falar sobre os efeitos dessas políticas, mesmo em meio a maior pandemia dos últimos 100 anos. A pandemia do novo coronavírus escancarou as desigualdades vividas pela população negra em um país estruturado pelo racismo. Homens e mulheres, negros e negras, são maioria entre as vítimas fatais do novo vírus. Ao mesmo tempo, e apesar de tudo isso, homens e mulheres negras avançam, por força de suas lutas. Inclusive no meio acadêmico.
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Tudo tem dois lados, nos diz o ditado popular. Como numa moeda. De um lado, há um sistema carcomido pela política nefasta comandada pelo (des) governo Bolsonaro. Desse lado da moeda, faltam investimentos em saúde e educação pública. Do outro lado, é preciso que se diga que nós, mulheres negras, conseguimos avançar na estrutura educacional das universidades públicas brasileiras, disputando com as narrativas brancocentricas um espaço que historicamente invalida nossa história. Gradualmente, revertemos a história única, como escreve Chimamanda Adichie.
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Estamos nos cursos de graduação, mestrado, nas especializações, nos doutorados e nos estágios de pós-doutorado. Essa presença importa: ela promove mudanças no direcionamento das pesquisas. Força a academia a lançar novos olhares sobre a realidade, e a buscar novas soluções. Mudas as estruturas racializadas da construção e difusão do pensamento. Somos muitas e, hoje, ocupamos importantes espaços que possibilitam o resgate e a valorização da diáspora negra.
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À primeira vista, essa é uma caminhada solitária e quanto mais subimos os degraus das conquistas acadêmicas mais órfãs nos sentimos. Por isso, decidi escrever esse texto. Ele tem o objetivo de visibilizar trabalhos, pesquisas e teses para reafirmar que somos muitas, que nossos passos vêm de longe e, principalmente, que cada um desses corpos e mentes é importante instrumento de resgate e valorização de um povo, o povo negro.
Na lista abaixo, destaco os nomes de algumas acadêmicas negras cujos trabalhos me chamaram a atenção nos últimos meses. Novamente, em meio a pandemia, elas se dedicaram – em lives, textos na imprensa, artigos acadêmicos — a lançar olhares originais sobre a realidade brasileira. Essa é uma lista necessariamente incompleta. Há muitas outras pesquisadoras que mantêm trabalhos primorosos e que não aparecem abaixo.
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É possível conhecer outros nomes num trabalho publicado em 2017, e organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O catálogo “Intelectuais Negras Visíveis” relaciona pesquisadoras de 11 diferentes campos do conhecimento.
Há ainda outros tantos nomes que precisamos descobrir. Esse texto é também um convite à colaboração: nos comentários, deixe suas indicações.
Ana Luiza Monteiro Alves – Graduanda em Direito (UFF), bacharel em Estudos de Mídia (UFF) e mestranda em Comunicação (UFF). Foi pesquisadora visitante do Departamento de Estudos Afro-americanos e Africanos, na Ohio State University, em 2015, onde desenvolveu pesquisa sobre a recepção de telenovelas brasileiras em Cuba. Atualmente é estudante do Laboratório de Ciências Criminais do Instituto Brasileiros de Ciências Criminais e da estagiária da Defensoria Publicado Rio de Janeiro, no Núcleo de Sistema Penitenciário.
Cassia Maciel – Graduada em psicologia pela Universidade Federal da Bahia/UFBA. Mestranda do Programa Multidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos-Pós Afro/FFCH/UFBA. Especializada em Gestão de Pessoas no Serviço Público com Ênfase em Gestão por Competências. Atualmente exerce o cargo de Pró-Reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil desta Universidade.
Daia Moura – Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação do Campus Sorocaba da UFSCar (PPGEd-So).
Débora Porciuncula – Bacharel e Licenciada em Geografia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Mestre e Doutora em Planejamento Territorial e Desenvolvimento (UCSAL).
Natália Neris – Doutoranda em Direitos Humanos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FD-USP), Mestra em Direito pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, Bacharela em Gestão de Políticas Públicas pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Atualmente é pesquisadora no InternetLab – Pesquisa em Direito e Tecnologia onde coordena a linha Desigualdades e Identidades.
Rosana Batista Monteiro – Professora Associada do Departamento de Ciências Humanas e Educação da UFSCar/Sorocaba. Docente do Programa de Pós-graduação em Estudos da Condição Humana – PPGECH/UFSCar. Graduada em Pedagogia pela UNESP – Araraquara . Mestre em Educação pela UNICAMP e Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. É líder do ETNS – Grupo de Pesquisa em Educação, Territórios Negros e Saúde, da Ufscar Campus Sorocaba.
Sirlene Assis – Mestrando do PPGNEIM – UFBA, especialista e Gestão de Politicas Publicas de Gênero e Raça UFBA e Assistente Social.
Tatiana de Jesus Pereira Ferreira – Engenharia de Pesca (Universidade Estadual do Maranhão -UEMA); Especialista em Engenharia Sanitária e Controle Ambiental – UEMA; Mestra em Sustentabilidade de Ecossistema pela UFMA.
Tatiane Cavalcanti de Oliveira Botosso – Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto). Especialista em Mídia, Informação e Cultura pelo CELACC (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação) na da USP (Universidade de São Paulo). Mestra em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação Mudança Social e Participação Política da EACH (Escola de Artes Ciências e Humanidades) da USP. Doutoranda no Prolam (Programa Integração da América Latina) da USP. Professora e Pesquisadora do CELACC/ECA/USP.
Thamires Gomes Sampaio – Advogada, mestra em Direito Politico e Econômico e Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Membro do Grupo de Pesquisa Estado e Direito no Pensamento Social Brasileiro da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Thiane Neves Barros – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia, Mestra em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará (PPGCOM/UFPA, 2014), especialista em Gestão de Processos Comunicacionais pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Graduada em Comunicação Social pela Universidade de Amazônia (UNAMA, 2001).
Foto de topo: Nappy
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