Na exposição Favelagrafia, crianças mostram como enxergam a comunidade onde vivem
A mostra, organizada pela equipe do jornal Desterro, retrata o Beco do Mocotó, periferia central de Florianópolis

Rafael Ciscati
Bárbara Diamante *
3 min

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Nos jornais de Florianópolis (SC), o morro do Mocotó, no centro da cidade, raramente aparece associado a notícias boas.
Criada no final do século XIX por ex-escravizados, a comunidade recebeu, há anos, a pecha de lugar violento. “A polícia da cidade aponta o morro como uma dos comunidade mais perigosas de Florianópolis” diz o jornalista Rodrigo Barbosa.
O preconceito rasura a riqueza da história do bairro, e incomoda seus moradores.
Foi pensando em formas de mudar essa narrativa que, em meados do ano passado, os educadores da ong ACAM decidiram criar um mapa cultural online do morro do Mocotó. A ong é nativa da região: há mais de 40 anos, conduz projetos com crianças da comunidade.
Elas, as crianças, comandariam todo o processo: caberia à criançada eleger os pontos culturalmente mais relevantes do bairro, escrever sobre eles e fotografá-los, de modo a criar uma galeria digital cobrindo todo o território.
Foi nesse ponto em que Rodrigo se envolveu com o projeto. Ele e a sócia Gabriele Oliveira são fundadores do jornal Desterro. A publicação, focada em segurança pública, cobre casos de violência policial em bairros populares de Florianópolis.
Gabriele explica que o Desterro surgiu a partir de uma relação estreita com lideranças de comunidades periféricas que não se sentiam ouvidas pela mídia hegemônica. “O Desterro é uma demanda que surgiu das periferias, que vivem e morrem em silêncio”, conta. “Apesar de as favelas estarem localizadas principalmente no centro da cidade, elas são muitas vezes invisíveis a quem passa. O Desterro surge para romper com esse silêncio”.
O nome do jornal é inspirado nas origens da cidade: quando fundada, Floripa foi batizada como Nossa Senhora do Desterro. Mudou de nome em homenagem a Floriano Peixoto, o militar que presidiu o Brasil no final do século XIX.”Desterro” significa exílio. Um termo, diz Gabriele, adequado a quem vive em comunidades invisibilizadas. “Enquanto Florianópolis é a “Ilha da Magia”, aqui no morro continuamos desterrados”, diz.
No projeto da Acam, coube aos jornalistas ministrar oficinas de fotografia às crianças. A intenção era ensiná-las a usar o equipamento. Ângulos, enquadramento, o estilo das fotos: todas essas decisões foram tomadas pelas próprias crianças ao longo de três saídas fotográficas que percorreram todo o morro.
O resultado dessas seções, você confere ao longo dessa página. Elas revelam a intimidade e a empolgação das crianças com bairro onde vivem. Mostram um território vivo cujas casas, do topo, avistam o mar.
Toda essa beleza, por fim, deu origem à exposição Favelagrafia: a comunidade pelos olhos de quem a vive. A mostra estreou em dezembro, no museu da escola catarinense, com a presença dos fotógrafos.
“Ali, as crianças puderam se ver como artistas”.
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