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Como os quilombolas de Ilha de Mercês lutam para manter um mangue vivo

Redação Brasil de Direitos

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Foto: Rafael Martins/ Fórum Suape

Tempos atrás, o quilombo de Ilha de Mercês, em Pernambuco, era chamado pelos seus moradores de “terra de barriga cheia”. Era uma referência à fartura  de alimentos na região. “Tinha caranguejo, siri, camarão, aratu.Muita fruta, macaxeira e mandioca de farinha”, diz Marinalva Silva, moradora e liderança política da comunidade. 

Foi assim até a chegada do complexo portuário de Suape. Sua construção, iniciada na década de 1970, destruiu recifes e forçou o deslocamento de mais de 20 mil pessoas que viviam na área. Para quem mora em Ilha de Mercês, o quadro ficou mais grave em 2007. Naquele ano, a empresa que administra o porto construiu um dique que barrou, parcialmente, as águas do rio Tatuoca  – o curso d’água que alimenta a região. Sem água suficiente, peixes e crustáceos foram sumindo. A época da barriga cheia, diz Marinalva, chegou ao fim. 

Marinalva reconta a história de luta dos quilombolas de Ilha de Mercês no primeiro episódio da Rádio Fórum. O podcast é produzido pelo Fórum Suape, organização que defende os direitos das populações impactadas pela construção do porto de mesmo nome. Todo mês, a atração entrevista uma pessoa diferente a respeito de assuntos do momento. 

Marinalva conta que, até a chegada do Porto de Suape, as comunidades quilombolas que viviam na região enfrentavam privações, mas eram felizes. “A gente não sabia o que era ônibus nem trem. Andávamos de jumento. Mas a comida era farta”.  

A chegada do porto veio acompanhada pela promessa de modernização. Uma promessa frustrada:  os desequilíbrios causados pelo empreendimento, hoje, ameaçam as atividades que geram renda para a população. “O mangue era nossa firma. Não uma firma como Suape, onde ninguém tem qualificação para trabalhar. Uma firma que alimentava todo mundo”. 

Recentemente, a comunidade de Ilha de Mercês conseguiu pressionar Suape que, depois de 14 anos, liberou parcialmente o fluxo de água no rio Tatuoca. A vitória rendeu um filme: o documentário Sangue, de que já falamos na Brasil de Direitos. “No dia em que reabriram o rio, eu chorei”, diz Marinalva no podcast. No programa, ela afirma que os quilombolas de Ilha de Mercês continuarão organizados até que o rio volte a fluir normalmente. “A gente vai para a luta. Não vai desistir, nem baixar a cabeça. Só porque a gente é negro e pobre, eles acham que vão nos fazer de pano de chão. Eu não quero sair do meu território. Vou lutar até o último suspiro”

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