No Recife, projeto quer produzir narrativas antirracistas
Rafael Ciscati
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Os idealizadores da Bayo: Waneska Viana, Mariana Paz e Eliel Silva (foto: arquivo pessoal)
por Rafael Ciscati
Na língua iorubá, Bayo (se pronuncia com ênfase na última letra), é um nome de mulher que significa “alegria encontrada”. Era mais ou menos essa a sensação que a psicóloga Mariana Paz experimentava nos dias que passava enfurnada na biblioteca do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) , no Recife. Localizado numa área central da cidade, o Gajop discute temas relacionados à segurança pública e sistema carcerário . Sua biblioteca reúne obras sobre direitos humanos e teoria racial, escritas por autores diversos: da filósofa alemã Hannah Arendt ao presidente sul-africano Nelson Mandela, morto em 2013.
Paz circulava pela biblioteca pelos idos de 2015, quando acabou deixando o Gajop para assumir outros rumos profissionais. Retomou o trabalho na instituição no começo desse ano. E tomou um susto ao dar de cara com o espaço temporariamente inativo.
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O objetivo de Bayo, segundo seus idealizadores, é contribuir para a produção de narrativas antirracistas. Trata-se daquelas, no caso do projeto, que valorizam as raízes culturais negras, frequentemente relegadas a lugar subalterno na história oficial. O ponto de partida do projeto são as reflexões da intelectual americana Angela Davis para a qual, “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Segundo Viana, isso se traduz no combate às histórias contadas a partir de uma perspectiva única, europeia: “Queremos ser um ponto para a construção de novas histórias e de novos debates”, afirma.
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Ao longo dos próximos seis meses, o Gajop vai sediar rodas de conversa e debates sobre negritude. Serão encontros sobre a solidão da mulher negra, masculinidade, maternagem e racismo estrutural. As conversas vão ser alimentadas pelo acervo já presente na biblioteca, e que deve ser ampliado: durante a cerimônia de lançamento do projeto, no último dia 26, a escritora e pesquisadora Inaldete Pinheiro doou 5 obras infantojuvenis de sua autoria à instituição. A biblioteca foi rebatizada em homenagem a ela.
Segundo Eliel Silva, as discussões articuladas pelo Bayo são essenciais para o próprio trabalho do Gajop: ” Apesar de ser uma cidade predominantemente negra, são comuns casos de racismo no Recife”, afirma. Questões referentes a raça e gênero perpassam todas as atividades desenvolvidas pela organização. Criado em 1981, o Gajop nasceu como um projeto idealizado por advogados interessados em oferecer formação jurídica popular, sobretudo relacionada ao direito à moradia. Com os anos, o escopo de trabalho mudou, para incluir discussões referentes às políticas de segurança, aos direitos das pessoas encarceradas e à atuação das polícias.
Hoje, entre suas muitas atividades, o grupo realiza formações com adolescente que cumpriram medidas socioeducativas. A ideia é que eles participem das discussões do novo projeto. Atualmente, lembra Silva, o perfil dos jovens que cumprem medidas socioeducativas guarda semelhanças com o da população encarcerada, com predominância de pessoas negras. Nas duas situações, é importante atentar para o componente racial, explicam os pesquisadores do Gajop: “Queremos contribuir para a formação desses jovens, mas não queremos que seja qualquer formação”, afirma Viana. “É preciso que eles se formem como sujeitos políticos”.
As atividades serão abertas a toda a comunidade e devem ser divulgadas pelas redes sociais do Gajop. A ambição é de que reúnam pessoas com vivências e formações diversas: “Militantes, jovens, intelectuais. Quanto mais diverso, mais rico o debate”, resume Viana.
No Recife, projeto quer produzir narrativas antirracistas
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