Os desafios enfrentados pelas pessoas trans no mercado de trabalho
E os créditos de carbono contaminados pela mineração. Ainda nessa edição, um giro pelas organizações do terceiro setor

Rafael Ciscati
5 min

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Às vésperas do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, celebrado nesse último sábado (28),a repórter Brasil narrou a rotina de violências muitas vezes vivenciada por pessoas trans no mercado de trabalho.
Era esse o cotidiano de Ana*, uma jovem de 32 anos que, por meia década, trabalhou no frigorífico Prima Foods. Seus superiores no emprego constantemente desrespeitavam sua identidade de gênero. Ana era obrigada a usar o vestiário masculino e se despir diante de dezenas de homens. “Eu me sentia um lixo”, conta ela, uma mulher trans. Em dezembro passado, a Justiça do Trabalho obrigou a empresa a indenizar Ana pela discriminação sofrida.
“É um processo [judicial] emblemático, que representa um avanço. Mas, enquanto não houver outros órgãos fazendo a fiscalização, atuando de forma efetiva, só a condenação é muito pouco. Não irá trazer uma mudança interna de mentalidade”, disse Iara Neves, advogada que atuou no caso, à Repórter Brasil.
Em 2024, um estudo realizado pela organização To.gather com 289 empresas brasileiras concluiu que, num universo de 1,5 milhão de trabalhadores, “apenas 0,9% eram pessoas trans ou travestis e 10,1% se identificavam como pessoas LGBTQI+. Em postos de liderança, as pessoas trans e travestis representavam 0,2%.”
*A reportagem optou por usar um nome fictício, de modo a proteger a fonte
Crédito sujo
Antes de contar essa história, vale explicar, grosso modo, como funcionam os créditos de carbono.
Atividades econômicas que envolvam alguma utilização de combustíveis fósseis — como a operação de uma fábrica, a geração de energia elétrica ou mesmo o funcionamento de uma plataforma de streaming — emitem dióxido de carbono. Conforme as concentrações desse gás na atmosfera aumentam, mais quente fica o planeta. Um jeito de compensar essas emissões é plantar árvores – que usam gás carbônico em grandes quantidades conforme crescem. Os créditos de carbono são uma alternativa. A empresa que não quer plantar árvores paga (compra créditos) para manter uma determinada área de floresta livre de desmatamento.
Isso dito, à história: o site Infoamazônia descobriu que mais da metade dos créditos de carbono comercializados na Amazônia brasileira está contaminada pela mineração. Os projetos que geraram esses créditos estão sobrepostos a áreas onde foram autorizadas atividades minerárias (que, veja, é altamente poluidora). Os créditos, supostamente, compensam as emissões de marcas globais, como Google, Spotify e Ifood.
Para ler com calma

A Universidade Harvard, EUA. Laços com a escravidão
Em 2022, a Universidade Harvard, nos EUA, publicou um relatório em que detalhava como seus fundadores ganharam fortunas com a escravização de pessoas negras. O plano era, a partir desses primeiros dados, identificar os descendentes vivos das pessoas escravizadas, e repará-los de alguma forma. A tarefa ficou a cargo do pesquisador Richard Celinni, que identificou mais de 900 pessoas escravizadas pelas famílias fundadoras da universidade, e mais de 500 descendentes vivos. Em janeiro de 2025, Celinni foi demitido.
Ao jornal britânico The Guardian, ele contou que a universidade temia falir, caso levasse adiante os planos de reparação. Seus superiores se queixaram por ele ter identificado “escravizados demais”. Harvard nega. (Em inglês.)
Defensor(x)s em foco
A Brasil de Direitos, você já sabe, é uma plataforma de notícias sobre direitos humanos construída de forma colaborativa. (Quase) todo mês, nossa equipe editorial se reúne com organizações de defesa de direitos atuantes no Brasil inteiro. São esses grupos que, junto com nossos jornalistas, definem quais serão as pautas publicadas no site.
Nessa seção, a gente faz um giro pelo do trabalho dos parceiro da plataforma 😉
O quilombo do Cumbe na confluência dos sonhos

O cotidiano da comunidade quilombola do Cumbe, no Ceará, virou de cabeça para baixo quando, sem aviso prévio, uma empresa de energia eólica decidiu erguer dezenas de aerogeradores no meio do território do quilombo. Brasil de Direitos já contou parte dessa história em um vídeo que explica o que é transição justa. Agora, o caso do quilombo do Cumbe é narrado em uma cartilha — ricamente ilustrada —publicada pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática. Vale conferir.
Racismo algorítmico
Numa decisão inédita, a Justiça do Trabalho condenou o iFood a indenizar, em R$60 mil, um entregador que foi barrado pela plataforma por causa de erros no sistema de reconhecimento facial do aplicativo. O caso foi acompanhado de perto pela Associação dos Motofretistas Autônomos do DF (Amae-DF), que comemorou a vitória. As lideranças da Associação explicam que esse não é um caso isolado: nos cálculos da Amae, casos de banimento por falha no reconhecimento facial são recorrentes, e afetam pessoas negras em maior número.
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