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Por – Movimento Xingu Vivo
Fundadora do Movimento Xingu Vivo, Antônia Melo, 70 anos, é uma das vozes mais importantes na luta pela preservação da Amazônia. Na resistência à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, enfrentou divisões nos movimentos sociais e desistências. Precisou ser muito persistente, tamanho foi o desafio. E ainda é.
No momento atual do Brasil, ela acredita que um dos grandes desafios para os direitos humanos é a desconstrução da campanha pejorativa praticada pelos ocupantes do poder contra ativistas, as causas de gênero, o socialismo e os militantes de esquerda.
Antônia defende a articulação das organizações e redes parceiras para atividades conjuntas e campanhas contra a violação de direitos humanos praticadas por empresas e governos.
Também vê como um grande desafio a criminalização e a perseguição por parte do poder público aos movimentos sociais e de direitos humanos: “É preciso fazer pressão no Judiciário por garantia de justiça aos pleitos das organizações de direitos humanos e lutar para fortalecer a união dos movimentos populares”, diz.
Também defende o trabalho nas bases para formação em direitos humanos e fortalecimento da consciência política.
Para a ativista, é importante, por exemplo, atuar nas escolas e comunidades.
“Os impactos na região do médio Xingu nas lutas dos ativistas são muito graves”, afirma. “Temos convicção que, apesar das aparências de trapalhadas e de idas e vindas do governo, o núcleo central não gira em torno do Palácio do Planalto, onde o presidente parece ter o papel de chocar e distrair seus eleitores”, analisa. “O núcleo central do governo parece ser dividido em dois: o núcleo militar e o núcleo neoliberal”.
Antônia afirma que a atuação do núcleo neoliberal deve afetar de forma drástica os direitos dos trabalhadores, principalmente os rurais: “Aqui em nossa região esse é um problema gravíssimo, com a contínua existência de trabalho escravo em fazendas da região e a retirada de madeira ilegal, invasão de territórios indígenas, invasões com uma luta desigual por direitos dos trabalhadores das comunidades tradicionais”.
A ativista lembra a tentativa de transferir a função de demarcação das terras indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura como uma violência aos direitos indígena (uma medida, felizmente, desfeita pelo Congresso, após pressão dos movimentos sociais).
Fala também do esvaziamento do Ibama com a entrada de representantes do agronegócio em postos chaves e da insegurança que isso provoca: “Isso ameaça o imenso e frágil corredor de sóciobiodiversidade formado por terras indígenas e unidades de conservação no Xingu”, lamenta.
Antônia critica ainda o decreto de flexibilidade de posse de armas. Para ela, é um sinal de que “nuvens escuras se aproximam dos defensores de direitos humanos na Amazônia”: “Aqui na região, marcada há décadas por crimes de pistolagem, isso é praticamente a senha para criarem milícias nas fazendas da região, para intimidar trabalhadores e ameaçar e matar a nós, que estamos nas frentes de luta da região, seja no rio ou nas estradas da Transamazônica”, alerta.
Para Antônia, o panorama é aterrorizante para a luta, mas é preciso seguir em frente em busca de horizontes de bem viver para todas e todos:“Sem soltar a mão de ninguém”, finaliza.
FOTO: Fundo Brasil
‘É preciso seguir em frente, sem soltar a mão de ninguém’
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