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Ato reúne quilombolas para cobrar políticas públicas: “Empretecemos Brasília”

Mariana Rodrigues

Rafael Ciscati

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com Rafael Ciscati

Edna da Paixão Santos estava animada. Diante da sede da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em Brasília (DF), a líder quilombola de Afrânio, uma comunidade do interior de Pernambuco, carregava uma bandeira branca tingida com uma imenso baobá vermelho. Na manhã desta quarta-feira, Edna participava do Aquilombar — encontro organizado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) que reúne cerca de 3 mil pessoas, vindas de quilombos de todo o país, em Brasília. “A palavra aquilombar diz muito para a gente. Aquilombar é estar junto”, conta a ativista, que faz parte do Coletivo de Mulheres na Conaq. “Durante muito tempo, estivemos separados durante a pandemia. Esse ato renova as nossas energias”.

O Aquilombar, que acontece nos dias 10 e 11 de agosto, é a segunda grande mobilização quilombola organizada em Brasília. A primeira foi em 1995, nos  300 anos de morte de Zumbi dos Palmares. O evento tem um forte componente político e ocorre em um momento simbólico: às vésperas de eleições gerais, a Conaq pretende pressionar governantes e candidatos para desenhar — e fazer cumprir — políticas públicas específicas para essas comunidades. A principal reivindicação é a da titulação fundiária. Nos cálculos da Conaq, 96% dos mais de 5 mil quilombos reconhecidos pelo IBGE ainda não foram titulados. Essa ausência de regularização dificulta o acesso das comunidades a políticas públicas e a linhas de crédito para adquirir equipamentos agrícolas.


A delegação de Pernambuco: dois dias de ônibus para “renovar energias” (Foto: Mariana Rodrigues)

Segundo a organização, a falta de titulação também deixa as comunidades vulneráveis a invasões e violência. Para a Conaq, o ato pretende por fim à invisibilidade que pesa sobre essas populações. “Hoje, estamos empretecendo Brasília com nossos quilombos, para mostrar que nós existimos. Este é um marco em nossas vidas”, diz Águida Marina Ferreira, da Coordenação Estadual de Mulheres do Quilombo do Estado de Minas Gerais Mariana Crioula

Depois de dois anos de uma pandemia que custa a passar, o encontro também é motivo de festa. “Somos um povo de contato. Gostamos de estar em constante contato com nossos irmãos”, diz Edna da Paixão. A delegação de Pernambuco, da qual ela participa, levou 150 pessoas à Brasília. Embarcaram em dois ônibus que partiram às 12h de domingo e chegaram à capital da terça-feira. Para ela, as horas de estrada são parte de um esforço coletivo de resistência. “Assim como nossos antepassados resistiram, acreditamos na força da informação para que a gente continue a resistir, e isso se perpetue pelas próximas gerações”, diz. Enquanto Edna falava, um batuque soava ao fundo. “É nesse batuque que a gente renova as nossas energias”. 

No começo da tarde de quarta-feira, o grupo seguiu em marcha com destino ao Congresso Nacional.


“Aquilombar é Aglutinar, é resistir, é dizer que nós queremos viver”, diz Gislene Souza dos Santos, quilombo Angeli II, Conceição da Barra/ES  (Foto: Mariana Rodrigues)

 

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