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Como uma jovem de Belém usou poesia para enfrentar o trauma da violência

Redação Brasil de Direitos

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A paraense Natasha Angel lembra que, na infância, todos diziam que ela era muito tímida. “Me chamavam de ‘mudinha’’, diz a moça, hoje com 21 anos. Não é que lhe faltasse o que dizer: frente ao medo de ser julgada, Natasha guardava para si as muitas ideias que lhe corriam pela cabeça.

Foi só nos tempos de escola, já entre a infância e a adolescência, que a menina se soltou. Na época, Natasha participou de apresentações de dança. E, pouco depois, conheceu o projeto Cineclube Terra Firme. Criado em Belém pela professora Lília Melo, o Cineclube TF reúne estudantes de uma escola periférica para produzir cinema, documentários, grafite, teatro, música e poesia. O objetivo é mostrar que a juventude periférica, que é tantas vezes estigmatizada e sofre com a violência policial, faz e pensa arte. No Cineclube TF, Natasha descobriu que as linhas que escrevia quando estava sozinha, em casa, tinham nome: eram poesia. Num dos saraus organizados pelo grupo, depois de muito hesitar, Natasha tomou coragem e recitou seus próprios versos. 

Foi dessa descoberta que surgiu o Poame-se, o projeto sobre o qual Natasha fala nesse primeiro episódio do PapoCast. No programa, conduzido pela professora Lília Melo, jovens moradores da periferia de Belém falam sobre arte, e sobre a importância da arte para as suas vidas. 

O Poame-se, conta Natasha, surgiu como uma mescla de roda de poesia e grupo de apoio mútuo. De início, era formado majoritariamente por mulheres. As adolescentes se reuniam para declamar versos e compartilhar vivências. “Nas rodas de conversa, a gente descobria que a dor de uma era parecida com a dor da outra”. Foi nos encontros do Poame-se que Natasha se sentiu segura para contar como, na infância, sofrera um abuso. E para falar como, em virtude dessa violência, ela se transformou em uma criança fechada, incapaz de confiar nas pessoas. Foi graças à poesia, conta, que Natasha reelaborou o trauma. “A poesia é um mecanismo de liberação física e mental”, diz. “Pegamos nossos traumas e nossas opressões e transformamos tudo em poesia”.

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