Marcha celebra força de mulheres negras e pede justiça por vítimas da violência
No centro de São Paulo, Marcha das Mulheres Negras cobrou combate à violência policial e fez festa pelo bem viver
Rafael Ciscati
4 min
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“Se a barra é pesada, certeza é voltar/ Tipo Pantera Negra (Eu voltei)”. Passava pouco das 18h da última terça-feira (25), quando a voz do rapper Emicida ecoou pela Praça da República, no centro de São Paulo.
A música compunha a trilha escolhida para recepcionar a pequena aglomeração que se formava. Gente vinda da cidade toda para participar da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.
O evento, já na sua 8ª edição, acontece anualmente no dia 25 de julho – Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A data foi estabelecida em 1992, depois de um grupo de mulheres se reunir em Santo Domingo, na República Dominicana, para denunciar os males do racismo e do machismo que enfrentavam.
Num misto de protesto político e celebração musical, a manifestação reuniu “mulheres negras em marcha pelo bem viver”, segundo dizia o tema da marcha desse ano.
Num dos cantos da praça, quase ao pé do palco que fora instalado ao lado da Secretaria Estadual de Educação, Camila de Araújo ensaiava alguns passos tímidos, seguindo o ritmo da música que tocava. “Vim aqui para me fazer ouvir” disse, abrindo um largo sorriso.
“A sociedade brasileira precisa entender que as mulheres negras existem e resistem. E precisa escutar nossas demandas”.
E as demandas são muitas. No Brasil, mulheres negras compõem um terço da população. Ainda assim, são minoria em espaços de poder. São também a parcela da população mais vulnerável à pobreza, que recebe os menores salários e que mais sofre feminicídio.
“O dia 25 de julho é um dia de celebração e também o momento de reafirmar que estamos em marcha por direitos e contra o genocídio do povo preto, dos povos indígenas, das vítimas de femincídio”, dizia o manifesto distribuído aos participantes.
Para a multidão reunida na praça, o dia 25 era também uma data para relembrar o potencial das mulheres negras para impulsionar mudanças.
“O Brasil precisa entender que as mulheres negras querem mudanças estruturais. Têm um projeto para o país”, disse Ana Laura Cardoso, outra participante do evento.
Esse projeto, explicou Rose Soares, pode ser resumido na busca pelo “bem viver”. O conceito, diz ela, se refere “a um estado de espírito e paz dentro de um coletivo.
A gente só consegue viver bem quando os nossos estão bem. Quando temos a certeza de que vamos sair de casa e voltar vivas”.
A Marcha também cobrou justiça pelos muitos que se foram. Horas antes, naquela mesma tarde, começara a audiência de instrução do caso que ficou conhecido como o Massacre de Paraisópolis.
Em 2019, policiais militares mataram nove jovens que participavam do baile da DZ7, na favela na zona Sul de São Paulo. Serão julgados 13 agentes. As vítimas – Gustavo Cruz Xavier, Denys Henrique Quirino da Silva, Marcos Paulo de Oliveira Santos, Dennys Guilherme dos Santos Franco, Luara Victoria de Oliveira, Eduardo Silva, Gabriel Rogério de Moraes, Bruno Gabriel dos Santos e Mateus dos Santos Costa – foram lembradas durante a marcha.
Que também cobrou justiça pela vereadora Marielle Franco – morta em 2018 – e pela jovem Luana Barbosa. Em 2016, Luana foi espancada e morta por policiais em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
O evento, ainda assim, foi alegre. Contou com apresentações de música e dança, e com um cortejo do grupo afro Ilu Obá de Min, que tradicionalmente abre a marcha.
“A dor é muita, mas ao olhar para essa praça tomada, me encho de forças” disse Regina Santos, figura histórica do Movimento Negro Unificado (MNU) quando subiu ao palco.
“A essa sociedade que quer nos matar, nós oferecemos felicidade. Nós oferecemos o bem viver”.
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