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A enfermeira Amanda Costa, que vive em Recife (PE), acalentava, há muito tempo, o desejo de ser mãe. Depois de cinco anos de tentativas frustradas, Amanda engravidou – mas a gestação evoluiu para um aborto. Já no hospital, ela foi orientada a usar um medicamento, por via vaginal, para esvaziar o útero. Estava numa enfermaria, cercada por outras mulheres, e se sentiu constrangida. “Não quero me expor na frente de todas elas”, lembra de ter dito. O comentário de Amanda foi recebido por uma explosão. “A enfermeira que me acompanhava começou a gritar no corredor: ‘a paciente se recusa a fazer o procedimento’. Eu não me recusei a nada. Só queria minha privacidade”.
A situação que Amanda vivenciou tem nome: violência obstétrica. Um tipo de violação que afeta uma a cada quatro pessoas gestantes no Brasil. E que atinge, especialmente, as mulheres negras. No segundo vídeo da terceira temporada, a série Que Bom que você perguntou! conversa com ativistas para entender o que é violência obstétrica – e como combatê-la.
“A violência obstétrica é uma violação de direito que a pessoa gestante, tanto mulheres cis como homens trans, sofrem tanto no ciclo gravídico-puerperal, como também em situações de trabalho de parto amamentação, puerperio e em situações de abortamento”, explica a ativista Karla Alves. Apesar do nome, nem sempre essas violações são praticadas por um médico obstetra: “Todo profissional que está atuando na assistência à mulher, seja na assistência social à saúde, pode tanto protegê-la, como também pode ser provocador ou facilitar que ela sofra essa violência”, diz Karla.
>>Veja também: por que o Brasil prende tanta gente?
Em Pernambuco, Karla lidera a Renascer Aldeia, organização que criou depois de, ela própria, sofrer agressões durante o parto. O grupo organiza campanhas de conscientização e conduz rodas de conversa com gestantes, de modo a informá-las sobre seus direitos.
Ela conta que a violência obstétrica se manifesta de maneiras variadas. Por vezes, chega a ser naturalizada, de tão recorrente.
É o caso de episódios em que o profissional de saúde decide fazer um corte no períneo – a região entre a vulva e o ânus – da gestante, sob a justificativa de facilitar a passagem da criança. Na imensa maioria dos casos, o procedimento é desnecessário: não ajuda e causa dor.
Ou quando o profissional de saúde insiste que a mulher opte por uma cirurgia cesariana em lugar do parto normal. “O médico diz: você é muito magra, ou é muito gorda, ou o bebê é muito grande. Nada disso é motivo para uma cesárea”.
A cesárea é uma cirurgia importante, capaz de salvar a vida da gestante e do bebê, mas não deve ser usada indiscriminadamente: a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ocorrência de cesáreas seja de, no máximo, 15 a cada 100 gestações. Um número distante para o Brasil: aqui, a cada 100 partos, 56 são cesarianas.
Na avaliação de Karla, para se proteger contra a violência obstétrica, gestantes e seus acompanhantes precisam se informar. Para isso, um instrumento importante é o “plano de parto”: um documento em que a pessoa gestante registra todos os seus desejos para o momento do parto.
Já Amanda, a enfermeira vítima de violência obstétrica, acredita que é preciso rever os currículos das escolas de medicina, de modo a orientar os profissionais a ser mais humanos.
Que bom que você perguntou!
A série Que Bom que Você Perguntou! foi pensada como um glossário destinado a facilitar conversas sobre temas complexos.
A primeira temporada foi ao ar em 2021. Desde então, foram publicados oito vídeos que discutiram assuntos diversos: de racismo estrutural ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Assista às temporadas anteriores aqui!
A terceira temporada da série começa a ser publicada nodia 23 de novembro na Brasil de Direitos e no youtube do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Até o dia 14 de dezembro, publicaremos um vídeo novo toda quinta-feira. Nessa temporada, Que bom que você perguntou! discute:
- Por que o Brasil prende tanta gente?
- O que é violência obstétrica?
- Por que demarcar terras indígenas
- Como fortalecer a democracia
Acompanhe e compartilhe!
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