Brasil de Direitos
Tamanho de fonte
A A A A

O que é violência obstétrica? Que bom que você perguntou!

Rafael Ciscati

4 min

Imagem ilustrativa

Navegue por tópicos

A enfermeira Amanda Costa, que vive em Recife (PE), acalentava, há muito tempo, o desejo de ser mãe. Depois de cinco anos de tentativas frustradas, Amanda engravidou – mas a gestação evoluiu para um aborto. Já no hospital, ela foi orientada a usar um medicamento, por via vaginal, para esvaziar o útero. Estava numa enfermaria, cercada por outras mulheres, e se sentiu constrangida. “Não quero me expor na frente de todas elas”, lembra de ter dito. O comentário de Amanda foi recebido por uma explosão. “A enfermeira que me acompanhava começou a gritar no corredor: ‘a paciente se recusa a fazer o procedimento’. Eu não me recusei a nada. Só queria minha privacidade”. 

A situação que Amanda vivenciou tem nome: violência obstétrica. Um tipo de violação que afeta uma a cada quatro pessoas gestantes no Brasil. E que atinge, especialmente, as mulheres negras. No segundo vídeo da terceira temporada, a série Que Bom que você perguntou! conversa com ativistas para entender o que é violência obstétrica – e como combatê-la. 

“A violência obstétrica é uma violação de direito que a pessoa gestante, tanto mulheres cis como homens trans, sofrem tanto no ciclo gravídico-puerperal, como também em situações de trabalho de parto amamentação, puerperio e em situações de abortamento”, explica a ativista Karla Alves. Apesar do nome, nem sempre essas violações são praticadas por um médico obstetra: “Todo profissional que está atuando na assistência à mulher, seja na assistência social à saúde, pode tanto protegê-la, como também pode ser provocador ou facilitar que ela sofra essa violência”, diz Karla. 

>>Veja também: por que o Brasil prende tanta gente?

Em Pernambuco, Karla lidera a Renascer Aldeia, organização que criou depois de, ela própria, sofrer agressões durante o parto. O grupo organiza campanhas de conscientização e conduz rodas de conversa com gestantes, de modo a informá-las sobre seus direitos.

Ela conta que a violência obstétrica se manifesta de maneiras variadas. Por vezes, chega a ser naturalizada, de tão recorrente. 

É o caso de episódios em que o profissional de saúde decide fazer um corte no períneo  – a região entre a vulva e o ânus – da gestante, sob a justificativa de facilitar a passagem da criança. Na imensa maioria dos casos, o procedimento é desnecessário: não ajuda e causa dor. 

Ou quando o profissional de saúde insiste que a mulher opte por uma cirurgia cesariana em lugar do parto normal. “O médico diz: você é muito magra, ou é muito gorda, ou o bebê é muito grande. Nada disso é motivo para uma cesárea”. 

A cesárea é uma cirurgia importante, capaz de salvar a vida da gestante e do bebê, mas não deve ser usada indiscriminadamente: a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ocorrência de cesáreas seja de, no máximo, 15 a cada 100 gestações. Um número distante para o Brasil: aqui, a cada 100 partos, 56 são cesarianas. 

Na avaliação de Karla, para se proteger contra a violência obstétrica, gestantes e seus acompanhantes precisam se informar. Para isso, um instrumento importante é o “plano de parto”: um documento em que a pessoa gestante registra todos os seus desejos para o momento do parto. 

Já Amanda, a enfermeira vítima de violência obstétrica, acredita que é preciso rever os currículos das escolas de medicina, de modo a orientar os profissionais a ser mais humanos. 

Que bom que você perguntou!

A série Que Bom que Você Perguntou! foi pensada como um glossário destinado a facilitar conversas sobre temas complexos.

A primeira temporada foi ao ar em 2021. Desde então, foram publicados oito vídeos que discutiram assuntos diversos: de racismo estrutural ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Assista às temporadas anteriores aqui!

A terceira temporada da série começa a ser publicada nodia 23 de novembro na Brasil de Direitos e no youtube do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Até o dia 14 de dezembro, publicaremos um vídeo novo toda quinta-feira. Nessa temporada, Que bom que você perguntou! discute:

  • Por que o Brasil prende tanta gente?

  • O que é violência obstétrica?
  • Por que demarcar terras indígenas

  • Como fortalecer a democracia

Acompanhe e compartilhe!

Você vai gostar também:

Imagem ilustrativa
Combate ao racismo

Maria Edhuarda Gonzaga *

3 abolicionistas negros que você precisa conhecer

Para entender

10 min

Imagem ilustrativa
Mulheres

Rafael Ciscati

Mulheres são principais vítimas de violência, mas país pensa pouco em prevenção

Entrevista

11 min

Imagem ilustrativa
Combate ao racismo

Maria Edhuarda Gonzaga *

Peça de Abdias Nascimento chega ao Brasil 30 anos depois de publicada nos EUA

Notícias

8 min